Capítulo 1: “Só quem ganha muito pode investir”: desmontando o mito da renda mínima para começar

Com total honestidade, essa é uma das crenças mais limitantes que escuto ao cobrir educação financeira no Brasil: a ideia de que investir é um privilégio restrito à elite. Por trás dessa frase está uma mentalidade que exclui — que desestimula — e que, pior, perpetua um ciclo de desinformação com impactos reais no planejamento das famílias.
Segundo pesquisa da ANBIMA, mais de 60% dos brasileiros acreditam que é necessário ganhar acima de R$ 5 mil por mês para investir com segurança. Esse dado é revelador: mostra que o conhecimento técnico sobre investimento ainda é distante do cotidiano da maioria. Mas os números provam o contrário.
Hoje, é possível aplicar no Tesouro Direto com valores a partir de R$ 30, participar de fundos com aplicações mínimas, adquirir CDBs acessíveis em bancos digitais e até entrar em ETFs pela bolsa com frações de ações. O economista Eduardo Giannetti costuma repetir que “investir não é sobre quanto você ganha, mas sobre como você transforma o pouco em hábito.” Essa frase devia estar impressa em todo extrato bancário.
Espero que se entenda que o investimento começa com mentalidade — não com salário. Se você gasta menos do que ganha, você já tem potencial de investidor. E mesmo que o valor seja simbólico, o ato em si constrói disciplina, familiaridade com os mercados e uma visão de longo prazo.
Gostaria de compartilhar uma experiência recorrente nas ruas e nos seminários que acompanho: o trabalhador autônomo que guarda R$ 50 por mês sem saber exatamente por quê, mas que, ao conhecer o Tesouro Selic, descobre que pode fazer esse dinheiro render com segurança. Essa descoberta muda tudo — não só pelo retorno, mas pela sensação de pertencimento ao mundo dos que planejam.
Claro, é preciso responsabilidade. Investir sem entender o produto, sem estudar os riscos, pode gerar frustração. Por isso, o caminho deve ser acompanhado de educação — e hoje isso está mais acessível do que nunca. Plataformas como Meu Bolso em Dia, Nubank Educação Financeira e XP University oferecem conteúdos gratuitos, didáticos e aplicáveis.
No aspecto técnico, é válido lembrar que o retorno financeiro depende mais do tempo e da constância do que do valor inicial. O conceito de juros compostos — aquele que faz o dinheiro “trabalhar por você” — só funciona quando há continuidade. O professor Marcos Lisboa, ex-presidente do Insper, reforça: “Investir pouco e sempre supera investir muito e nunca.”
E não podemos esquecer que há também investimentos sociais e educacionais que complementam a lógica financeira. Cursos, capacitações, aquisição de ferramentas de trabalho — tudo isso é investimento. O erro é achar que só entra na conta o que está na bolsa.
Concluo este capítulo com uma convicção jornalística: quebrar o mito da renda mínima para investir é abrir uma porta para milhões. E essa porta não depende de salários altos — depende de informação correta, incentivo certo e uma boa dose de coragem para começar. Investir é para quem planeja — e o planejamento não tem faixa de renda.