Capítulo 5: “Educação financeira é só para quem tem dinheiro”: por que quem tem menos precisa saber mais

Close-up of study blocks and stacked books on a wooden desk, symbolizing education and learning.

Com total honestidade, essa é uma das frases que mais me preocupam quando o assunto é planejamento financeiro: a ideia de que educação financeira é um luxo para quem já está em boa posição. É um mito que silencia, que exclui — e que perpetua a desigualdade econômica com eficácia assustadora.

Segundo dados da OECD (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), países com menor nível de renda per capita apresentam os menores índices de educação financeira entre a população. No Brasil, segundo levantamento do Banco Central, apenas 38% das pessoas com renda de até R$ 2.000 têm algum conhecimento básico sobre orçamento, juros ou investimentos. Isso revela um cenário onde quem mais precisa de orientação tem menos acesso.

O educador financeiro Gustavo Cerbasi costuma repetir que “o conhecimento é mais valioso para quem tem pouco, porque cada decisão errada custa muito.” E essa frase, além de verdadeira, é urgente. Quem vive com orçamento apertado não tem margem para erro — e é justamente por isso que o saber se torna ferramenta de proteção.

Espero que se entenda com clareza: a educação financeira não é sobre aplicar na bolsa ou fazer movimentações sofisticadas. É sobre saber o que fazer com o salário na hora que ele cai. É entender como dividir os gastos, como evitar dívidas, como guardar o que sobra — e principalmente, como transformar o pouco em estratégia.

Gostaria de compartilhar uma observação recorrente nas oficinas de planejamento que acompanhei: pessoas que, ao aprenderem a separar gastos fixos de variáveis, conseguiram reorganizar suas compras, evitar atrasos e começar a guardar pequenas quantias. Não houve milagre — houve informação. E quando ela chega, os resultados aparecem rápido.

A professora Renata Nunes, da FEA-USP, afirma que “quem tem pouco dinheiro precisa tomar mais decisões do que quem tem muito. Cada compra, cada conta, cada escolha pesa.” Isso significa que a educação financeira é, na verdade, mais necessária para quem está na base da pirâmide. Porque, nesse contexto, o improviso pode sair caro.

No aspecto técnico, a educação para quem tem renda limitada deve focar em:

Orçamento realista e flexível, adaptado à sazonalidade do trabalho (especialmente entre autônomos e informais).

Controle de dívidas, com prioridade para renegociação de juros abusivos e planejamento de pagamento.

Planejamento de consumo consciente, incluindo técnicas como a regra das 24 horas ou lista de desejos mensais.

Micro poupança com liquidez, mesmo que seja R$ 10 por mês — criando hábito, não apenas montante.

Entendimento básico de produtos financeiros, como cartão, empréstimos, seguros, contas digitais.

Hoje, com o avanço das fintechs e dos conteúdos gratuitos na internet, é possível aprender com qualidade sem gastar nada. Plataformas como Meu Bolso em Dia, Serasa Ensina, canais como Me Poupe! e podcasts de finanças oferecem orientação prática, simples e acessível. O desafio é romper o mito e estimular o acesso.

A psicóloga financeira Ana Paula Andrade, em entrevista à revista Claudia, reforça: “Educar não é sofisticar — é libertar. E quem aprende a planejar reduz o peso mental do dinheiro.” Ou seja, o impacto não é só no bolso — é na saúde emocional.

Concluo esta série com uma certeza: a educação financeira não é um privilégio — é um direito. E mais do que isso, é uma necessidade urgente para quem vive com pouco, pois cada real pode ser decisivo. Quebrar o mito é abrir caminho para autonomia, dignidade e escolha.

Porque no fim, aprender a cuidar do que se tem é o primeiro passo para construir o que se quer.

Similar Posts

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *